segunda-feira, 25 de outubro de 2021

AMANHÃ VAI SER OUTRO DIA

O medievo obscurantismo bolsonarista não tem conseguido sufocar o grito dos trabalhadores por liberdade e justiça que sempre ecoou nos rincões desta pátria amada brasilis, mesmo nos períodos mais duros da autocracia, conforme nos mostra o poema "Faz escuro mas eu canto", do  amazônida Thiago de Mello, composto nos idos anos de chumbo da década de 60, mas ainda hoje modernamente contemporâneo e categórico para referenciar a nossa luta.

"Faz escuro mas eu canto, / porque amanhã vai chegar. / Vem ver comigo companheiro, / a cor do mundo mudar. / Vale a pena não dormir para esperar".

 


Por Gilson Romeu da Cunha e Helena Maria Bortolo

   "Eu vim para desconstruir”, reiterou o extremado direitista Jair Messias Bolsonaro nos primeiros meses do ano de 2019, logo após a sua posse na presidência. Não foram meras palavras ocas ou simples fraseologia. A sua locução expressou uma intencionalidade que se materializou de forma implacável nestes mil dias de edificação do seu esdrúxulo Reich caboclo, cá abaixo da linha do equador.

   A nefasta herança de destruição de Bolsonaro, por meio da sua política de contrarreformas neoliberais, não tem precedentes na história deste país: reajustes do salário mínimo abaixo da inflação, 15 milhões de desempregados, 19 milhões de famintos, que se revezam cotidianamente nas quilométricas filas do osso, inflação acima de 10%, gasolina a R$7,00, gás em torno de R$130,00, devastação dos biomas das florestas e parques ambientais, cortes das verbas destinadas à educação pública, incontáveis tentativas de solapar os pilares das instituições democráticas da república e mais de 600 mil mortes ceifadas pela Covid-19, que devem ser creditadas ao boicote do criptofacista às medidas sanitárias de biossegurança.

   A reforma previdenciária aprovada no segundo ano do mandato do "presidente" produziu um corte de mais de R$800 bilhões em direitos dos trabalhadores sob a forma de redução dos valores de benefícios, ampliação do tempo de contribuição e inviabilização do acesso à aposentadoria.

   O mundo do trabalho também foi impactado negativamente com a implantação da carteira verde-amarela, que permite que o patrão se desobrigue de suas contribuições previdenciárias e trabalhistas, reduza salários e período de férias.

 Há mil dias no poder, Bolsonaro coleciona mentiras e casos de violações aos direitos humanos.

   De acordo com o jornalista Leonardo Sakamoto, "até aqui o legado bolsonarista é um Brasil mais pobre, mais faminto, mais desesperançoso".

  Todo esse descontexto sociopolítico e econômico tem dificultado a luta de resistência dos trabalhadores pela reconquista de direitos e pela valorização salarial, materializadas num total desequilíbrio entre sindicatos e patrões.

  Todavia, o medievo obscurantismo bolsonarista não tem conseguido sufocar o grito dos trabalhadores por liberdade e justiça que sempre ecoou nos rincões desta pátria amada brasilis, mesmo nos períodos mais duros da autocracia, conforme nos mostra o poema "Faz escuro mas eu canto", do  amazônida Thiago de Mello, composto nos idos anos de chumbo da década de 60, mas ainda hoje modernamente contemporâneo e categórico para referenciar a nossa luta.

Faz escuro mas eu canto,
porque amanhã vai chegar.
Vem ver comigo companheiro,
a cor do mundo mudar.
Vale a pena não dormir para esperar.

 Gilson Romeu e Helena Bortolo são professores  aposentados e diretores do Sintep Subsede de Cuiabá

terça-feira, 27 de abril de 2021

O AGRONEGÓCIO E OS CELEIROS DAS PRÓXIMAS DOENÇAS

Epidemiologista evolutivo descreve a fórmula que ameaça furacão de novas epidemias, com a nefasta indústria das Big farms. E como o governos neoliberais as reforçam, ao sentenciar população à contaminação deliberada

 

 

Rob Walace, em entrevista a Anna Beatriz Anjos, na Agência Pública

 

Outras Palavras

Não é de hoje que o epidemiologista evolutivo Rob Wallace alerta para a relação entre o agronegócio e o surgimento de patógenos mortais aos seres humanos. No livro “Big Farms Make Big Flu”, de 2016 – lançado no ano passado em português como “Pandemia e Agronegócio” –, ao analisar surtos do vírus influenza em fazendas de porcos e aves, o norte-americano comparou o vírus a furacões e escreveu, em tom quase premonitório, que “um Katrina de influenza poderia estar engrossando seus braços na fila das epidemiologias”.

Três anos depois, a Covid-19 transformou em realidade as previsões de Wallace. Embora não tenha sido o influenza a varrer o mundo, ele explica que o aparecimento do coronavírus causador da doença, cuja origem possivelmente são morcegos, está intimamente relacionado ao atual modelo de produção de alimentos. “Na China e em outros lugares, a vida selvagem está sendo incluída no modelo industrial do agronegócio”, disse à Agência Pública.

Por isso, ele vislumbra novas epidemias num futuro não tão distante. “É improvável que demore mais cem anos para que tenhamos uma nova pandemia realmente grave, como aconteceu a partir de 1918 [com a gripe espanhola]. É muito provável que tenhamos a Covid-22, a Covid-23”, afirma. No fim do ano passado, em parceria com outros pesquisadores, Wallace lançou um novo livro, “Dead Epidemiologists: On the Origins of Covid-19”, abordando esse e outros aspectos da pandemia.

Ex-consultor da FAO-ONU e do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC), o epidemiologista também critica os governos “neoliberais de direita” que adotaram “uma abordagem malthusiana” e apostaram na “imunidade de rebanho”, mas destaca que, ainda assim, o caso de Jair Bolsonaro é “único”: “A filosofia política genocida já ocorria muito antes do surgimento da Covid-19, portanto, de certa forma, não nos surpreendemos com ela. Mesmo assim é horrível, porque do que vale um governo que não consegue proteger sua população?”, questiona.

 


O norte-americano Rob Wallace é autor de “Pandemia e Agronegócio” e coautor de “Dead Epidemiologists: On the Origins of Covid-19”

O Brasil é visto neste momento como o epicentro da pandemia, com o número mais alto de mortes diárias no mundo. Além disso, novas cepas têm sido detectadas por aqui – primeiro a P1, em Manaus, e agora outra variante, que combina 18 mutações, identificada por pesquisadores em Belo Horizonte. Você acredita que o Brasil é uma ameaça para todo o planeta no que diz respeito ao enfrentamento da pandemia?

O Brasil é apenas mais um dos países onde houve negligência, ela está em todos os lugares, em alguns mais do que em outros. Nos países onde a negligência foi adotada como política oficial, vimos surgir novas variantes: nos Estados Unidos, temos uma que apareceu na Califórnia; há o caso da Inglaterra, com a B117; a P1 no Brasil; além da cepa da África do Sul. Em sua maioria, esses são regimes neoliberais de direita. No início do surto, o pensamento nesses lugares era: “O que vamos fazer? Imunidade do rebanho. Vamos deixar o vírus se espalhar e aí todo mundo vai ficar protegido por ter sido exposto.” Essa é uma abordagem malthusiana, porque permite que milhões de mortos sejam deixados pelo caminho, e também um completo fiasco, já que a resposta imune das pessoas à exposição ao vírus é diferente da resposta gerada pela vacinação – a vacina provoca uma resposta muito mais forte. Por outro lado, há países politicamente bastante diferentes entre si – China, Islândia, Vietnã, Taiwan, Nova Zelândia, Austrália – que usaram a governança para seu fim básico: intervir para que uma grande pandemia não matasse seu próprio povo. É importante analisar a complexidade do contexto geral para perceber que, ainda assim, o Brasil é único, por ter como presidente um incompetente e fascista que vê o genocídio como parte de seu programa de governo. A filosofia política genocida já ocorria muito antes do surgimento da Covid-19, portanto, de certa forma, não nos surpreendemos com ela. Mesmo assim é horrível, por que do que vale um governo que não consegue proteger sua população? Nós tiramos o Trump da presidência aqui, mas mais de 70 milhões de eleitores votaram em um homem que matou meio milhão de norte-americanos. Trump e sua filosofia derivam da própria história colonial e genocida dos EUA, que perdura até hoje e se manifesta no assassinato de indígenas e na escravização de pessoas negras. Vemos a mesma política no Brasil, de muitas maneiras. Portanto, de certa forma, os EUA e o Brasil são espelhos um do outro.

Você vê com preocupação o potencial de surgimento de novas variantes no Brasil, por conta da alta circulação do vírus?

Nosso grupo de pesquisa batizou a variante B117, que surgiu no Reino Unido, de “cepa BoJo”, em homenagem ao primeiro-ministro Boris Johnson. Isso tem um aspecto de sátira política, mas queremos chamar atenção para o fato de que o aparecimento de doenças não tem a ver só com o vírus. Sim, é importante fazer análises moleculares e acompanhar as mutações, mas há uma razão bastante explícita pela qual as novas variantes surgiram em países negligentes: eles permitiram que o vírus circulasse. Em vez de imunidade de rebanho, tivemos a “multiplicidade de rebanho”, que é quando você permite que o vírus circule em meio às pessoas e faça experimentos com o sistema imunológico humano de forma a driblar a imunidade. Certamente isso aconteceu no Brasil, onde a P1 emergiu mesmo com alguns esforços de promover o lockdown. Esses patógenos normalmente evoluem em um local e se espalham para o resto do mundo, superando as outras variantes. Portanto, a resposta é sim, isso é perigoso.

Em sua análise, no Brasil há locais com condições favoráveis ao aparecimento de um novo patógeno perigoso para os humanos, como aconteceu em Wuhan, na China?

Com certeza. Muitos dos patógenos transmitidos por vetores se urbanizaram. Sei que o Zika tem a reputação de ser um patógeno urbanizado – foi da África para a Ásia e depois para o Brasil, principalmente nas cidades –, mas isso não significa que não tenha nada a ver com desmatamento, tem muito e em vários aspectos. O primeiro deles é que o Zika teve alguns dos piores resultados clínicos, principalmente se co-infectado com dengue e febre amarela – é o que chamamos de ativação recíproca, quando as proteínas de um patógeno ativam as proteínas do outro. Nas duas últimas décadas, cientistas brasileiros têm mostrado que o desmatamento está impulsionando a disseminação de várias espécies de mosquitos que atuam como vetores de doenças, e alguns entomologistas brasileiros descrevem em detalhes como muitas dessas espécies estão chegando às áreas urbanas. Em segundo lugar, a distinção entre urbano e rural não é mais o que era antes: há a propagação do continuum urbano para dentro da floresta a ponto de cidades estarem surgindo encravadas na floresta. Isso expande o circuito de produção e leva a uma simplificação da floresta em termos ecológicos.

Assim como o SARS-Cov-2, pesquisadores acreditam que os coronavírus causadores da SARS, cujo surto eclodiu em 2002, e da MERS, que apareceu em 2012, vieram de morcegos. Por que os morcegos estão envolvidos no surgimento de patógenos que conseguem quebrar a barreira de espécie e infectar humanos – processo conhecido como spill over?

Em condições normais, a maioria dos patógenos leva um tempo para passar de hospedeiro a hospedeiro, e isso deve ser um limite para o quão “durão” ele pode ser. As exceções a essa regra são os patógenos de animais como os morcegos, os únicos mamíferos que voam. O sistema imunológico dos morcegos tem que ser muito bom porque eles não podem se dar ao luxo de ficar doentes, já que um morcego que não voa é um morcego morto. Os morcegos e seus patógenos, portanto, vivem numa espécie de guerra evolutiva, o problema é que, em humanos, esses patógenos causam danos consideráveis porque nós não estamos no mesmo nível. Quando a SARS surgiu em 2002, pesquisadores encontraram na floresta vários tipos de coronavírus parecidos com o SARS-Cov-1 [causador da SARS]. Tivemos três eventos terríveis de SARS nos últimos oito anos porque os coronavírus estão evoluindo a partir das defesas que os morcegos estão desenvolvendo contra eles. Nós definitivamente não queremos entrar no meio dessa briga. Imagine só, a gente entra num bar e vê dois caras, um segurando uma garrafa quebrada e outro com uma arma. O que fazemos? Saímos do bar, não queremos ficar entre eles, certo? Mas é exatamente isso que estamos fazendo.

Em que sentido estamos “entrando nessa briga”?

Quando vemos um morcego com uma arma na mão e o SARS com uma garrafa quebrada, nos afastamos. A mesma coisa com os mosquitos: queremos garantir que as pessoas não sejam picadas por eles dando-lhes moradia e saúde adequadas e o que mais for necessário. Só não queremos nos expor a potenciais danos com os quais não podemos lidar. O que as florestas fazem é trabalhar para nós por conta própria. Em virtude de sua complexidade, elas são como uma caixa que guarda alguns dos patógenos mais perigosos e garante que eles não se espalhem para as comunidades ao redor. Ainda assim, às vezes acontece o spill over para comunidades indígenas ou pequenos agricultores que vivem ao seu redor. Porém, quando esses grupos estão ligados a uma longa cadeia periurbana, qualquer evento de spill over – cujas frequência e diversidade aumentaram – tem uma chance muito maior de chegar a uma cidade da região e, de lá, se propagar para o resto do mundo. Agora, é muito trabalhoso se tornar um vírus celebridade, nem todo mundo pode ser a Madonna ou o Justin Bieber. Você precisa experimentar muito antes de chegar à combinação que te permitirá abrir o cadeado e se tornar um patógeno celebridade. Quando comunidades tradicionais e pequenos agricultores são forçados a deixar suas terras, basicamente elimina-se as pessoas que sabem manejar a floresta, preservar sua complexidade e cuidar dos serviços ecossistêmicos dos quais dependemos. E essas grupos provavelmente serão forçados a entrar no ciclo de migração, fazendo com que o corredor periurbano seja não apenas o meio pelo qual as mercadorias são transportadas, mas um caminho que as pessoas percorrem o tempo todo, de uma direção a outra, de forma que qualquer patógeno pode encontrar seu trajeto para a cidade. 


 Segundo Wallace, as florestas “são como uma caixa que guarda alguns dos patógenos mais perigosos”; por isso, o desmatamento está diretamente ligado ao surgimento de novas doenças

 

Esse processo tem a ver com o aumento da frequência de aparecimento de patógenos mais perigosos?

Antigamente, os patógenos diziam “levei 150 anos para me tornar uma celebridade”, e agora você tem essa estrela que saiu de um rincão da Amazônia e cinco anos depois já está na balada bebendo champanhe e se divertindo. Aumentamos a velocidade com que isso acontece e a diversidade dos patógenos que estão atingindo esse feito. É improvável que demore mais cem anos para que tenhamos uma nova pandemia realmente grave, como aconteceu a partir de 1918 [com a gripe espanhola]. É muito provável que tenhamos a Covid-22, a Covid-23. Ou serão as próximas pandemias causadas pelos vírus influenza? Ou vai ser um vírus Nipah [que apareceu pela primeira vez na Malásia em 1998]? Muitos de nós estávamos de olho na peste suína africana, que saiu da África, atravessou a Eurásia e chegou à China em 2018, matando metade dos suínos chineses. Não estamos vendo apenas novas celebridades emergindo um ano após o outro, estamos vendo várias aparecendo ao mesmo tempo. Muitos tipos de patógenos diferentes estão percorrendo esse caminho em vários lugares ao redor do mundo.

Especialistas têm discutido em que lugares do mundo há chances da próxima pandemia surgir – China, Índia, Brasil etc –, quase todos países do Sul Global. Isso dificulta a responsabilização de empresas e países ricos que incentivam o modelo de agronegócio e lucram com ele?

Podemos discutir porque os patógenos são a causa do surto. Aí podemos falar sobre a causa da causa, que é o desmatamento. Depois, temos que debater ainda a causa da causa da causa, que é como o desmatamento está sendo impulsionado e por quais motivos. Isso tem a ver com os circuitos de capital e as geografias relacionais, segundo as quais o que acontece de um lado do mundo influencia o que ocorre no outro. O nosso grupo de pesquisa considera que lugares como Londres, Nova York e Hong Kong são os maiores focos mundiais de doenças porque é dessas cidades que parte o dinheiro responsável por promover o desmatamento que leva aos eventos de spill over, seja no Brasil, África ou China.

Em seus livros, você explica que a agricultura industrial oferece os “meios exatos pelos quais patógenos desenvolvem os fenótipos mais virulentos e infecciosos”. O que isso significa?

O melhor jeito de facilitar o surgimento de um patógeno mortal é por meio do sistema industrial de criação de aves, suínos ou gado. Não estou dizendo que o agronegócio tem a intenção de fazer isso, mas é uma junção perfeita de circunstâncias que contribuem exatamente para o aparecimento desses patógenos. Explicando melhor: imagine que você é um vírus ocupando um hospedeiro. Você não pode ser muito letal porque, se matar seu hospedeiro muito rapidemante, não consegue infectar o próximo. Você precisa se replicar somente até o ponto em que está pronto para passar ao seguinte hospedeiro, e para isso calcula mais ou menos quanto tempo demora normalmente para que ele apareça.

Por isso as florestas, com sua complexidade, são tão importantes: num ambiente desse, é improvável que você encontre seu próximo hospedeiro tão rápido, isso demora um pouco [devido à biodiversidade]. Mas se você está num celeiro com 50 mil perus ou 250 mil galinhas apinhados e com o mesmo sistema imunológico, todos terão a imunidade deprimida pelas condições de aglomeração a que estão submetidos. Você, que é um vírus, olha e pensa “isso é ótimo, não tenho que me preocupar porque meu próximo hospedeiro está logo ao lado”. O fato desses celeiros estarem cheios de porcos e galinhas ajuda a selecionar as linhagens mais virulentas. E não é apenas um celeiro, frequentemente eles são construídos perto um do outro, num mesmo lugar, para atender às necessidades da produção em escala. Como o agronegócio tem muito poder político, eu costumo dizer que esses vírus têm os melhores advogados do mundo trabalhando para eles, porque esses advogados estão protegendo um modelo de negócio de sofrer intervenções. Mas podemos seguir colocando a culpa no vírus, nos pequenos agricultores ou na China.

Segundo especialistas, o SARS-Cov-2 se espalhou por meio do comércio de animais selvagens na China. Que semelhanças esse tipo de comércio tem com o agronegócio mais tradicional?

Nós estávamos preocupados com sopa de morcego, mas não se trata apenas do animal, é mais sobre como ele está sendo integrado a um determinado modo de produção. Na China e em outros lugares, a vida selvagem está sendo incluída no modelo industrial do agronegócio. Parte do dinheiro que sustenta o agronegócio está começando a custear esse setor mais formalizado. Como estamos caminhando a passos largos para a destruição da Terra e de seus animais, o que sobra deles se torna cada vez mais valioso, e de repente se transforma em mais um meio de ganhar dinheiro. Resumindo, os animais selvagens estão se tornando menos selvagens de duas maneiras: ao serem integrados à agricultura industrial e ao serem expulsos das florestas por conta de sua fragmentação. Por isso, cada vez mais estão sendo selecionados animais que consigam sobreviver nessas novas paisagens periurbanas. É o que acontece nos Estados Unidos com os gansos da neve: eles costumavam passar o verão nas terras úmidas do Golfo do México, que foram destruídas para dar lugar a shoppings centers. Enquanto outros animais não resistem e morrem, os gansos agora passam o verão nas fazendas do norte do país, aumentando a interface com a criação de aves e o spill over do vírus influenza. O capital industrial está desconectando todas essas ecologias. As ecologias estão sempre mudando, mas agora elas estão sendo desplugadas e reconectadas de forma a permitir que patógenos anteriormente marginalizados surjam em todos os lugares ao mesmo tempo.


 Celeiros “cheios de porcos e galinhas ajudam a selecionar as linhagens mais virulentas”, diz Wallace

 

Considerando que o agronegócio é uma força política e econômica muito importante em vários países – no Brasil, representa 26% do PIB –, há maneiras de ao menos diminuir o risco epidemiológico relacionado a essa atividade?

Existem maneiras muito práticas de intervir, como a engenharia reversa. Primeiro, é preciso introduzir a agrobiodiversidade, que atuará como uma espécie de corta-fogo imunológico. Isso quer dizer que, numa mesma fazenda, deve-se criar diferentes raças de animais, porque aí, se um porco ficar doente, é improvável que o patógeno passe para as cabras ou galinhas. Dessa forma, o agricultor consegue sobreviver economicamente e não favorece o surgimento de novas doenças, porque não haverá a densidade necessária para suportar um patógeno tão mortal. Não significa o fim da doença, só significa que uma doença não vai acabar com tudo. A segunda coisa é permitir que os animais se reproduzam de maneira natural para que aqueles que sobreviveram a surtos epidemiológicos transmitam sua imunidade à próxima geração. Em outras palavras, reintroduzir as leis de Darwin como um serviço ecossistêmico a favor da agricultura. Muitos pequenos produtores já fazem isso, e esse é o melhor jeito de alimentar o mundo e ao mesmo tempo protegê-lo do estrago que esses patógenos podem causar. Existe um processo de descampezinação, mas devemos pegar o sentido contrário, precisamos de mais camponeses. Isso confunde as mentes progressistas porque elas aceitam as premissas da produção industrial e pensam que a única coisa que se tem a fazer é socializar os meios de produção, quando na realidade a riqueza depende do trabalho e da terra. Precisamos de terra no sentido de uma fonte regenerativa dos meios pelos quais sobrevivemos como espécie, e os animais não humanos e todos os outros seres devem ser incluídos na noção do que é uma visão progressista.

Você disse em outras entrevistas que a vacina “pode ser uma distração das medidas necessárias para evitar que os patógenos continuem a se expandir”. Por quê?

Quando se trata de derrotar a Covid-19, precisamos vacinar todo mundo para evitar que as variantes surjam. O problema é o foco unicamente no aspecto emergencial do surto como forma de desviar a atenção de suas razões estruturais. Ao dizermos “temos uma vacina, o problema está resolvido”, deixamos de lado todas as discussões sobre a causa da causa da causa, que não só nos trouxe a esta pandemia e a todos os diferentes surtos ocorridos no século XXI, como também nos levará àqueles que ainda estão por vir. Obviamente precisamos tomar medidas de emergência, elas são importantes: a vida das pessoas está em jogo e precisamos de vacinas, antivirais e atendimento de saúde, mas as razões pelas quais tudo isso não está disponível para todos estão estreitamente ligadas aos motivos pelos quais as doenças surgem.

Acredita que os modos de vida dos povos indígenas e tradicionais oferecem uma alternativa a esse sistema?

Não quero fetichizar ou colocar ninguém num pedestal, mas as populações indígenas entendem como produzir alimentos, como mantê-los, como pensar nosso lugar no mundo. Eles estão tentando nos apontar um caminho e, de alguma forma, estão nos chamando de volta à Terra, porque partimos dela. Quando o Elon Musk coloca uma nave no espaço, isso representa, de fato, o que fizemos: deixamos para trás nosso planeta e os povos indígenas. Eles têm o direito de estar incrivelmente bravos com o que fizemos, mas muitos deles, de alguma forma, conseguem nos oferecer perdão em seus corações, nos chamando de volta à Terra e dizendo “vamos nos unir novamente ao planeta”. Não é que as culturas ao redor do mundo não tenham cometido erros, houve civilizações que colapsaram por razões ecológicas, mas os erros foram específicos, relacionados a uma paisagem particular. Já nós, o sistema capitalista, fizemos a versão global disso, constituímos a falha de julgamento como diretriz primária, como princípio – vamos destruir coisas e nos orgulhamos disso. Somos deuses caminhando sobre a terra da qual dependemos e estamos destruindo. O capitalismo gosta muito de enaltecer a engenhosidade da humanidade. Mas o Elon Musk nos levando a Marte não tem nada a ver com salvar a humanidade, é sobre o fim da humanidade.

Fonte Outras Palavras

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sábado, 17 de abril de 2021

APÓS CHACINA DE CARAJÁS, ORGANIZAÇÃO CRESCE, MAS TERRA AINDA É DE POUCOS E ESTADO CONTINUA HOSTIL

MST prepara atos para lembrar 25 anos do massacre, com doações de alimentos. Brasil ainda privilegia o agronegócio em relação à agricultura familiar

 

Região da "curva do S", local da chacina de 1996: poucos avanços e muitas ameaças 

 

 Rede Brasil Atual

Por Vitor Nuzzi, da RBA

 As cenas daquele final de tarde de 17 de abril de 1996 uma quarta-feira, na “curva do S” da rodovia PA-150, em Eldorado dos Carajás, sudeste paraense, expuseram de forma trágica a questão da terra no Brasil. Se nestes 25 anos houve avanços na organização do movimento dos sem-terra e na agricultura familiar, a concentração de áreas seguiu gigantesca o Estado permaneceu, em boa medida, hostil à demanda. Neste sábado (17), para lembrar a data e os 21 mortos no ataque policial, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) fará atos pelo país – simbólicos, devido à pandemia – marcados por iniciativas solidárias. “Vamos plantar muita árvore e distribuir alimentos onde tem condições razoáveis de segurança”, diz João Paulo Rodrigues, da coordenação nacional do MST.

Na véspera dos 25 anos do massacre de Eldorado dos Carajás, que terminou com 21 trabalhadores rurais assassinados por policiais, vários deles executados, um vídeo traz depoimentos de artistas para lembrar a data. Eles lembram também o crescimento da fome no país em plena pandemia, pedindo solidariedade e ações efetivas do poder público. Assista aqui. 

Entulhos autoritários agrários

Segundo Marina dos Santos, da direção nacional do MST, os sem-terra enfrentam o que ela chama de “entulhos autoritários agrários”. São, define, novas normativas (em forma de projetos de lei, medidas provisórias e decretos) “para favorecer os donos de terra em detrimento da agricultura, dos camponeses”. Representantes do movimento participaram de entrevista coletiva no final da manhã desta sexta-feira (16).

Imagens de uma tragédia brasileira: ataque policial na estrada, em 1996, deixou 21 trabalhadores mortos. Muitos foram executados (Arquivo e Memória MST)

 

Grilagem com carimbo oficial

Uma das questões é a da “regularização” de terras, que se traduz, resume, em transformar áreas publicas em privadas. João Paulo apresenta outra definição. “É o grilo recebendo o carimbo do Estado brasileiro. Nada mais é do que a grilagem de terras públicas, agora com a assinatura do governo federal.” Atualmente, afirma, as políticas do governo resumem-se a “armar” o latifúndio, passar terras à iniciativa privada e dar prioridade ao agronegócio.

Além disso, o MST aponta crescimento da violência no meio rural, reflexo do posicionamento bélico do atual presidente, com ações frequentes de milícias e “jagunços”. Tito Moura, da direção estadual do movimento no Pará, afirma que apesar de haver uma indicação contrária a despejos durante a pandemia, isso tem acontecendo com frequência “na calada da noite”, seja com órgãos públicos ou pistoleiros, e de forma clandestina. “O conflito vai se acirrar na Amazônia. Pode ocorrer outro massacre na nossa região”, alerta, citando “muitas mortes silenciosas”.

 Médicos legistas comprovaram que sem-terra foram executados sumariamente em 17 de abril de 1996, em Eldorado dos Carajás (Reprodução)

Reforma agrária em todo o mundo

“Em todos os países desenvolvidos do mundo foi feito algum programa de reforma agrária”, lembra João Paulo. De forma institucional ou não. No Brasil, apesar de 1 milhão de famílias assentadas nos períodos FHC/Lula, a bancada do agronegócio é numerosa (de 250 a 300 deputados) e influente, os meios de comunicação sustentam o agronegócio e existe ainda o que o dirigente do MST chama de “hegemonia cultural” favorável aos grandes produtores. Isso leva a uma certa “invisibilidade” das frequentes denúncias. Ele traduz os problemas como uma “derrota ideológica” da agroecologia.

O que reforça a importância de mostrar à sociedade a importância da produção familiar para o combate à fome no Brasil. “Nossa terra não é para produzir commodities para exportação, mas para produzir alimentos”, diz Marina.

 

Combate à concentração

Ela destaca avanços em políticas de fortalecimento da agricultura familiar, na produção de alimentos saudáveis e em programas de geração de renda. “Mas, mesmo nesse período, o Estado não teve uma política de combate à concentração de terra”, observa a dirigente. Existem aproximadamente mil acampamentos pelo país, com 200 mil famílias, e alguns estados com “ameaça iminente de despejo”. São mais de 40 áreas no Pará e 70 no Paraná com pedidos de reintegração.

O ataque em Eldorado dos Carajás se originou de uma caminhada dos sem-terra para pedir a desapropriação da fazenda Macaxeira. Os trabalhadores foram cercados dos dois lados da estrada. O coronel Mário Colares Pantoja, comandante da PM do Pará, sustentou no julgamento que o governador Almir Gabriel (PSDB) havia mandado desbloquear a estrada “de qualquer maneira”. Já o chefe do Executivo estadual, que morreu em 2013, disse que a polícia tinha autonomia na operação.

Dia nacional e internacional de luta

Pantoja e o major José Maria Pereira Oliveira foram os únicos condenados. Depois de 16 anos em liberdade, os oficiais foram presos em 2012. O coronel chegou a ficar quatro anos preso em regime fechado, até conseguir passar para o regime domiciliar. Ele morreu em novembro do ano passado. O governador não foi indiciado, nem nenhum dos policiais – eram 150 na operação.

“O estado do Pará foi negligente com a questão”, afirma Tito. Assim, quem mandou e quem matou, acrescenta, não sentou no banco dos réus. “Alguns (trabalhadores) foram indenizados, outros vivem com muita dificuldade”, conta.

João Paulo Rodrigues lembra que o 17 de abril se tornou data de referência nacional e mundial dos trabalhadores rurais. Em 25 de junho de 2002, foi sancionada a Lei 10.469, instituindo o 17 de abril como Dia Nacional de Luta pela Reforma Agrária. É também o Dia Internacional da Luta Camponesa. No local da antiga fazenda Macaxeira, fica hoje o Assentamento 17 de Abril, com 637 famílias, segundo o MST.

O dirigente nacional observa que apenas oito estados, inclusive São Paulo, têm leis específicas sobre terras, o que demanda maior ação das Assembleias Legislativas. Ele confirma informações de possíveis investimentos estrangeiros na Amazônia, mas teme que esses recursos sejam aplicados, basicamente, para aumentar a área desmatada e favorecer projetos industriais. “Enquanto tivermos o Salles (Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente), o Bolsonaro, a Amazônia será terra arrasada.”

Fonte Rede Brasil Atual

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sexta-feira, 16 de abril de 2021

LULA É CANDIDATO E FAVORITO À PRESIDÊNCIA DA RAPÚBLICA EM 2022

 “Lula que já tem 18% de votos a mais do que Bolsonaro num eventual 2º turno e tende a aumentar essa diferença com a nova liberdade que amealhou”, diz o editor da revista Fórum

 

  Ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (Foto: Ricardo Stuckert)

 

Brasil 247

Com a votação do Supremo Tribunal Federal (STF) na tarde de hoje, o ex-presidente Lula já é candidato a presidência da República. Só uma tsunami jurídica de proporções estratosféricas poderia mudar isso. Teria de ser revertida a suspeição de Sérgio Moro, que já foi aprovada na 2ª turma, e todos os processos encaminhados para o novo juiz, que ainda não se sabe se será de Brasília ou São Paulo, e ele então teria de usar testemunhos e provas para tomar sua decisão de maneira muito rápida. Mesmo assim, seria improvável que o julgamento de Lula em 2ª instância se desse antes do processo eleitoral de 2022.

Ou seja, temos um caso praticamente consumado. Sim, o praticamente é um excesso de zelo. Já dá pra dizer que o nome de Lula estará na cédula eleitoral de 2022, como já esteve em outras cinco eleições.

E Lula é o grande favorito para vencer a disputa. Bolsonaro sabe disso e até por este motivo seu apaniguado no STF, Kássio Konka, fez uma voto medíocre a favor da tese da competência de Moro para julgar Lula.

A partir de agora o ex-presidente Lula poderá iniciar de forma mais segura suas articulações para a nova candidatura. Poderá conversar com atores políticos sabendo que fala de um futuro certo e não de uma hipótese.

E será ouvido por eles não como um potencial candidato que precisa se livrar de uma perseguição judicial, mas como o favorito do pleito que se avizinha.

Lula que já tem 18% de votos a mais do que Bolsonaro num eventual 2º turno e tende a aumentar essa diferença com a nova liberdade que amealhou hoje.

Isso lhe trará tranquilidade para articular sua volta ao poder de maneira inteligente e sem sobressaltos.

O campo progressista volta a ter uma possibilidade real de ser governo no maior país da América Latina.

Depois de tudo que Lula viveu nos últimos tempos, fez bem seu biógrafo Fernando Moraes em esperar para lançar o livro sobre a história do ex-presidente. Porque tudo indica que esta história terá ainda capítulos muito emocionantes.

Fonte Brasil 247

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quarta-feira, 3 de março de 2021

HECATOMBE PROGRAMADA

 "Os militares jogaram o Brasil no precipício fascista. Por mais agressiva e ameaçadora que possa ser a epidemia da Covid-19, e de fato ela o é, o Brasil encontra-se nesta situação não por fatalidade ou inevitabilidade, mas devido às escolhas deles, militares", escreve Jeferson Miola 


 

Brasil 247

Por  Jeferson Miola

Hecatombe [Dicionário Houaiss]:

1. Na Antiguidade, o sacrifício de cem bois

2. Massacre de um grande número de pessoas; mortandade, carnificina.

3. Destruição, grande desgraça

Com projeto genocida, militares são responsáveis pela hecatombe

A hecatombe que acontece no Brasil não é um evento natural, inevitável ou fruto de descuido. E, menos ainda, é um evento inexorável, fadado a acontecer em qualquer hipótese.

Estamos diante de uma devastação brutal, provocada pelas escolhas deliberadas do governo militar que atua como força de ocupação do próprio país para concretizar um terrível processo de saqueio e pilhagem do Brasil pela oligarquia dominante.

Os militares da ativa e da reserva das Forças Armadas são os responsáveis diretos por esta assombrosa destruição. O governo Bolsonaro não é um governo com militares; é um governo dos militares; é um governo militar que planeja virar a chave do regime – de civil, para militar. E fará isso, apenas entenda possível, numa “nova normalidade”.

Os militares jogaram o Brasil no precipício fascista. Por mais agressiva e ameaçadora que possa ser a epidemia da Covid-19, e de fato ela o é, o Brasil encontra-se nesta situação não por fatalidade ou inevitabilidade, mas devido às escolhas deles, militares.

O Brasil teria plenas condições de superar com eficácia as temíveis dificuldades impostas pela Covid. O país possui um dos maiores e mais eficientes sistemas de saúde universal do mundo, o SUS, que poderia produzir imunizantes tanto para abastecimento doméstico, como para o mundo inteiro, através de centros produtores de excelência, como o Instituto Butantã e a Fiocruz.

O SUS poderia imunizar cerca de 60 milhões de brasileiros e brasileiras num único mês por meio da fantástica rede da atenção primária em saúde que, lamentavelmente, começou ser sucateada e terceirizada pelo ultraliberal Mandetta/DEM, ministro bolsonarista dos anos iniciais que expulsou os médicos cubanos do Brasil.

O Brasil, além disso, como integrante do bloco dos BRICS, poderia enfrentar as dificuldades nacionais e liderar um esforço mundial de enfrentamento eficaz e promissor da Covid ao lado da China, Rússia e Índia, os maiores produtores mundiais de imunizantes.

Apesar disso, entretanto, neste 2 de março de 2020 o Brasil alcançou a mais alta taxa de transmissão da Covid: cada 100 pessoas transmitem o vírus para outras 113.

Tivemos, também, a maior quantidade diária de mortes evitáveis pela Covid: 1.726 vidas perdidas, ou 6 mortes a cada 5 minutos. Um recorde de mortes. Um recorde de mortes que seriam evitáveis, tivesse sido outra a estratégia de enfrentamento da doença.

Tratam-se, por isso, de assassinatos; de homicídios de brasileiros e brasileiras que morrem em consequência da política oficial do Estado, de extermínio e de indiferença à vida humana.

Tivemos, ainda, a maior média de pessoas contaminadas. E, mais grave, o colapso absoluto do sistema de saúde, com falta de leitos de UTI, de EPI’s e oxigênio de uso medicinal.

De norte a sul do país, o cenário é macabro e desolador. Registram-se cenas de dor e sofrimento por desassistência, óbitos domiciliares, morticínio por asfixia, enterros em valas comuns.

Com a necropolítica e o plano deliberado de abandono do SUS e sabotagem do enfrentamento científico da Covid, os militares transformaram o Brasil numa grande Manaus.

À frente desta guerra contra o próprio povo, os militares designaram ninguém menos que um general da ativa do Exército Brasileiro, o paspalhão general-ministro da Morte Eduardo Pazuello.

Num futuro que haverá de chegar – mais cedo que tarde –, estes facínoras serão submetidos a uma justiça de transição.

Nela, eles terão de responder criminalmente, seja nos tribunais nacionais, seja nos tribunais internacionais, pela perpetração de crimes contra a humanidade e, também, pelos crimes de genocídio, ecocídio e etnocídio.

Com seu projeto genocida, os militares assumem integralmente a responsabilidade pela hecatombe que devasta o Brasil e promove o maior morticínio da população nacional – já são quase 260 mil vítimas formais, afora as mortes subnotificadas, do regime fardado.

Fonte Brasil 247

https://www.facebook.com/antoniocavalcantefilho.cavalcante/ 

terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

OS INSTRUTORES FARDADOS DE DANIEL SILVEIRA

 ...ou um atentado à Constituição foi cometido por todo o Alto Comando do Exército em 2018 – do qual fazia parte, entre outros, o então Ministro da Defesa, General Joaquim Silva e Luna, depois Presidente de Itaipu (salário mensal de R$79.000,00), recém nomeado Presidente da Petrobras (salário de até R$400.000,00) –como mostra a imperdível reportagem de Lygia Jobim em Carta Maior


 

Carta Maior

 

 Por Redação Carta Maior

 
Ou isso, ou aquilo: ou o General Villas Bôas é um mentiroso que tentou se socorrer na autoridade do Alto Comando do Exército para escorar o twitter golpista de 3 de abril de 2018 -com o qual intimidava os ministros do STF, na véspera do julgamento do Habeas Corpus do ex-presidente Lula, ou pior.

Pior é o que ele relatou no livro ‘General Villas Bôas: conversa com o comandante’ (Editora FGV).

Escrito a partir de cinco dias de depoimentos –insista-se, 5 dias, tempo suficiente para releituras, reflexões e revisões- espaçados no biênio agosto/setembro de 2019, a história do twitter golpista é relatada ali com riqueza de detalhes.

Abre aspas para a rememoração do militar : ‘"O texto teve um 'rascunho' elaborado pelo meu staff e pelos integrantes do Alto Comando residentes em Brasília (grifo de Carta Maior)...

Segue o relato:

‘No dia seguinte da expedição, remetemos para os comandantes militares de área. Recebidas as sugestões, elaboramos o texto final, o que nos tomou todo expediente, até por volta das 20h , momento que liberei para o CComSEx (Setor de comunicação do Exército) para expedição’.

Fecha aspas.

Sublinhe-se:

-o staff do general fez um rascunho do recado golpista intimidatório aos ministros do STF para coagi-los a não conceder o HC a Lula, que poderia devolve-lo à candidatura presidencial de 2018.

Recorde-se:

-Lula, prestes a ser preso por ordem de Moro, mantinha-se franco favorito ao pleito presidencial depois do golpe do impeachment, de 2016.

Era preciso tirá-lo da disputa e/ou dos palanques para que a direita pudesse se consolidar no poder, agora pelo voto.

Aos dados:

a)no Datafolha de janeiro de 2018 Lula despontava com a larga vantagem na liderança das intenções de votos com 37% das preferências;


b) seu favoritismo seria reafirmado novamente, dias depois do ‘bilhete’ militar à Suprema Corte.

 c) em nova sondagem divulgada em 15 de abril, Luiz Inácio Lula da Silva –(então já preso por Moro, que expediu ordem dia 5 de abril, graças à rendição do STF ao twitter golpista do dia 3) liderava todos os cenários em que aparecia na nova pesquisa nacional do Datafolha.

Uma semana depois de preso, em Curitiba, o petista que o general impediu de concorrer tinha 31% das intenções de voto.

Era o dobro das intenções de voto atribuídas a Jair Bolsonaro; três vezes a votação potencial de Marina Silva.

‘Esse homem não pode concorrer; se concorrer não poderá ganhar; se ganhar não deverá governar’, dizia Carlos Lacerda, em junho de 1950, para impedir a candidatura vitoriosa de Getúlio Vargas, que cometeria suicídio, quatro anos depois para não se render ao cerco golpista.

O recado subliminar que o twitter golpista de 2018 disparou aos iminentes juízes do STF naqueles dias decisivos de abril foi exatamente esse.

 ‘Esse homem não pode ser candidato; se concorrer vencerá; se vencer fará de novo outro grande governo...’

Ao contrário do que ocorreu com Vargas sessenta e oito anos antes, a coação militar deu certo.

Lula não foi candidato; Bolsonaro venceu e fez do Brasil isso que estamos vivendo.

É forçoso arguir: pela octanagem do que estava em jogo, o general Villas Bôas, adestrado na obediência da caserna, agiria como um franco atirador?

Ou, de fato, como detalha em seu livro-depoimento, o aviso prévio de golpe foi obra coletiva de todo Alto Comando do Exército...

Importante reler suas palavras:

Aspas: ‘O texto teve um 'rascunho' elaborado pelo meu staff e pelos integrantes do Alto Comando residentes em Brasília. No dia seguinte da expedição, remetemos para os comandantes militares de área. Recebidas as sugestões, elaboramos o texto final, o que nos tomou todo expediente, até por volta das 20h , momento que liberei para o CComSEx (Setor de comunicação do Exército) para expedição’

Ou isso, ou aquilo.

Ou o general Villas Bôas agora mente, tentando minimizar ‘o pronunciamiento de 2018’ como iniciativa pessoal. E deve ser intimado a depor por isso...

...ou um atentado à Constituição foi cometido por todo o Alto Comando do Exército em 2018 – do qual fazia parte, entre outros, o então Ministro da Defesa, General Joaquim Silva e Luna, depois Presidente de Itaipu (salário mensal de R$79.000,00), recém nomeado Presidente da Petrobras (salário de até R$400.000,00) –como mostra a imperdível reportagem de Lygia Jobim em Carta Maior (https://bit.ly/2ZBVHjM).

Nos dois casos, seja o do improvável voo solo golpista; seja o da blitzkrieg de todo Alto Comando –após um dia inteiro de planejamento, como detalha o livro citado- a baioneta digital espetada nas costas da Suprema Corte não pode ficar ali sangrando impunemente.

Se os ministros do Supremo, os deputados e senadores do Congresso Nacional assim o permitirem, estarão se juntando a Villas Bôas e ao Alto Comando de 2018 como instrutores da matilha da qual Daniel Silveira é só um aprendiz sôfrego.

Em 2022 os brasileiros devem repactuar seu futuro nas urnas. Se a picada aberta em 2018 permanecer impune, quem garante que poderão escolher livremente os artífices dessa repactuação?

Carta Maior, a exemplo de toda a mídia progressista, desdobra-se como sentinela diuturna dessa travessia. A parceria política e o apoio financeiro de seus leitores é mais crucial que nunca para que não tombemos no caminho desse longo amanhecer.

Contribua, em primeiro lugar, organizando-se coletivamente para as lutas que virão e, no que for possível, ajude financeiramente a mídia progressista,

Joaquim Palhares
Diretor de Redação

Fonte Carta Maior  

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